domingo, 29 de março de 2015

Não se combina o que é NATURAL.

Se, entre os vilanovenses, temos 2008 como o ano que não acabou (por causa das duradouras consequências de um quase acesso à série A do Brasileirão que virou pesadelo no fim por problemas extra-campo e erros absurdos dentro das quatro linhas), 2014 certamente é o ano que jamais deveria ter existido. Quase uma década de péssimas administrações e atitudes extremamente equivocadas (e por vezes arbitrárias) de um mesmo grupo que apenas revezou nomes em uma infame dança das cadeiras nos cargos diretivos do clube, acompanhados por um Conselho Deliberativo, em sua maioria, omisso (ou submisso), culminou no pior ano da história de um dos times mais tradicionais do Centro-Oeste brasileiro, afundado em dívidas, há anos sem sequer participar da Copa do Brasil, rebaixado para a série C do nacional e, pasmem, para a quase amadora segunda divisão do fraco Campeonato Goiano.

"Não venho mais ver esta merda!" - sentenciei ao me cansar de acompanhar tanto sofrimento logo depois de assistir uma derrota junto ao meu irmão, minha cunhada e meu avô materno (conselheiro grão-benemérito do clube) que havia se reanimado a ir ao estádio depois de um bom tempo afastado pela saúde já frágil de um senhor de 83 anos e pela fase ruim que se arrasta há tempos em seu time do coração. Mais de 15 mil torcedores em uma noite de terça-feira vendo o Vila ser derrotado nos acréscimos do segundo tempo pelo lanterna do campeonato. Decidi, sim, não acompanhar mais.

No próximo jogo, estava eu - como o vilanovense que já era levado ao estádio pelo pai quando ainda era neném de colo - ligado em rádio, tv e internet, mentindo para mim mesmo como se não quisesse nem lembrar que estavam transmitindo jogo do Tigrão.

2015 começou com a troca praticamente total dos diretores do clube e a volta de Frontini, jogador que, pela seriedade, respeito e dois gols decisivos em cima do Treze-PB (no acesso de 2013), mais se aproximou nos últimos anos de virar ídolo da torcida mais popular e apaixonada do Centro-Oeste. Mesclando jogadores experientes e garotos da base (já acostumados a serem lançados em momentos de pressão extrema), o novo elenco passou a ser uma incógnita que já começa com a obrigação de recuperar a honra e o respeito dos fanáticos colorados. A nova diretoria tem entre seus membros vilanovenses apaixonados, daqueles com as nucas marcadas pelo sol que castiga as arquibancadas do Onésio Brasileiro Alvarenga (OBA, para os íntimos).

Adotou-se, para a disputa da segundona regional, um polêmico uniforme preto (bem distinto do tradicional vermelho e branco). Atitude criticada pela fuga às tradições e até um (repetidamente negado) desrespeito pelo campeonato. Uma espécie de luto pela maior vergonha do Tigre que, na prática, não deixa de ser uma tentativa de demonstrar uma ruptura da nova diretoria com as últimas gestões do clube.

Pois bem, voltando à decisão de me manter afastado (lê-se: acompanhar tudo sobre o Vila escondido de mim mesmo). Não fui o único. Vi muitos revoltados e envergonhados vilanovenses dizendo o mesmo. "Não volto mais" e "não quero nem saber" viraram mantras da torcida nos últimos tempos. Minha própria família - toda vilanovense -, que sempre frequentou os estádios onde essa camisa vermelha se fez presente, desanimou. Cabisbaixos, passamos a tentar mudar de assunto quanto o Vila era citado. 

Ao me mudar da casa dos meus pais, hesitei em levar o que tinha do Tigrão (bandeira, uniformes, enfeites, etc). Coloquei uma única camiseta na mala.

Sem combinar, havíamos passado quatro rodadas do campeonato evitando o assunto e nos limitando a informar um ao outro (como se o outro também não houvesse acompanhado em segredo) os resultados finais das partidas. Sem combinar, meus pais foram ao OBA sábado cedo comprar nossos ingressos. Sem combinar, eu e meu irmão já estávamos acordados em nossas casas e vestidos com nossos mantos colorados. Sem combinar, meu avô, meu pai, meu padrinho, meu irmão, eu e mais de 9 mil pessoas que sofrem, lamentam e às vezes mentem para si mesmas mas não conseguem fugir da natureza teimosa do vilanovense presenciamos, no Serra Dourada, o Vila levar um amargo empate do desconhecido América de Morrinhos (um dia antes do clássico entre Goiás e Atlético, respectivamente os dois times com mais dinheiro e estrutura do estado, atualmente nas séries A e B do Brasileiro, levar menos de 2 mil pagantes ao mesmo estádio). Natural.

6 comentários:

  1. O sofrimento de um torcedor por ver seu clube numa situação tão complicada é o maior do mundo, difícil de imaginar e mensurar. lamento muito e na mesma medida torço para que o Vila possa se recuperar de tamanhos desmandos e absurdos que o mesmo foi vítima por anos a fio, o clube não é grande. é gigante ou mais que isso para ser torcedores e é isso que importa.

    É impossível também deixar de acompanhar e amar o nosso clubes por mais que tentemos fazer isso de alguma maneira, essa iniciativa em geral será frustrada de algum momento.

    Parabéns pelo texto e por essa declaração de amor a seu modo para o Vila Nova.

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    1. Valeu demais, velho! Você que também é parte de uma torcida exemplar, sabe como é acompanhar esse amor independente da situação...

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  2. Texto do Marcello expressa com clareza a diferença entre o SIMPATIZANTE e o VERDADEIRO torcedor de estadio.

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    1. Como eu disse, é uma coisa natural. Aprendi a torcer antes de aprender a andar. kkk!

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  3. Belo texto retrata bem o sentimento do torcedo colorado, posso ate dizer que comigo foi bem parecido oque foi mencionado no texto. Hoje nos resta esperanças de dias melhores e por sinal estamos melhorando com a nova diretoria de deus quizer vamos estar na série A onde realmente e nosso lugar!!

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