Tô indo hoje com Vania ao "Rhythm and blues and Soul and Symphonic in Rio". Porque de fato, Rock nessa quinta feira no palco Mundo do Rock in Rio , só com muita boa vontade na homenagem ao Renato Russo, se aturarem o Minczuk. Fui dar uma olhada no som da Kesha, que eu não conhecia, e de rock ali só a lembrança que sua imagem me trouxe da saudosa Rê Bordosa, personagem Junkie do cartunista Angeli.
Mas o assunto que ocupa as redes sociais,o tema que impulsiona o lugar comum da web é a escalação de Claudia Leitte e Ivete Sangalo no festival. Comparações que projetam hipotéticas participações de Mettallica em cima de um trio no Carnaval Baiano, ou de Iron Maiden numa micareta, e por aí vai. Aliás, comecei minha ida profissional tocando em trio elétrico (tocávamos Human Nature, tocamos até "Birdland", do Weather Report, em ritmo de galope) e acredito que os gringos adorariam tocar num trio, iam matar a pau e cair no gosto do carnavalesco baiano, sempre pronto para novas propostas sonoras,apesar do massacre midiático dos mesmos produtores e artistas de sempre. Taí: lançaram uma idéia. Não se admirem se num próximo carnaval uma banda Heavy do mais puro Rock esteja em cima de um trio, no carnaval baiano.
Essas situações de confronto entre tribos musicais me lembram um show no Espírito Santo, longe dos holofotes, mas uma experiencia que vivi profissionalmente no fim dos anos 80. Escalado num festival onde as grandes atrações eram bandas como Angra e Sepultura, o artista baiano/brasiliense Renato Matos, no palco, teve que dominar uma enorme platéia de metaleiros raivosos que esperavam os irmãos Cavallera (ainda em começo de carreira, mas já um mito do povo Metal) entrar e quase silenciaram em vaias o reggae-porrada de Renato. Até ele pegar da platéia uma bengala com uma caveira de cachorro e começar a repetir um refrão, aos brados: 'UNIVERSIDADE, PEDAIS E GUITARRAS CUSTAM OS OLHOS DA CARA", sacudindo no ar aquela cara de osso de cachorro, sem olhos... Ganhou o povo...Depois, Adriano Faquini salvou de vez a pátria trazendo de volta Janis e Hendrix com sua voz rara...Melhor que jogar água mineral.
Vejo essa discussão requentada sobre a alegada incoerência da participação de Claudia Leitte e Ivete Sangallo nesta edição do Rock in Rio mais uma vez, como uma vitrine de marcação de posição e de limites, da afirmação pessoal do próprio gosto, feita de forma coletiva.
Aquela mijada no poste (ou no post?) que o cachorro dá: "Esse lugar é meu!" "Essa área é minha"!! "Ó meu nome aí"!!!
O descabelo do jovem rockeiro vendo artistas alienígenas num festival que tem nome de rock equivale ao "humpf" bovino e desdenhoso que o dândi jazzista-purista solta quando vê num dos muitos ditos "Festivais de Jazz" que pulsam pelo mundo, artistas das várias "gavetas" que a mídia precisa criar: "Étnicos", "World Music", "MPB", "Reggae" e...Rock!
Pra ilustrar, lembro aqui uma lista de artistas que se apresentaram em edições anteriores do Rock in Rio:
Baby Consuelo e Pepeu Gomes
Ney Matogrosso
(tô até considerando o Tremendão Erasmo como Rock)
George Benson
(tô até considerando o Folk James Taylor como Rock)
Al Jarreau
Gilberto Gil
Elba Ramalho
Ivan Lins
Alceu Valença
Moraes Moreira
Prince
Jimmy Cliff
New Kids On The Block
George Michael
Elba Ramalho
Ed Motta
Roupa Nova
Daniela Mercury
Milton Nascimento
Orquestra Sinfônica Brasileira
Carlinhos Brown
'N Sync
Britney Spears
Sandy e Junior
Zé Ramalho
Rihanna
Katy Perry
Stevie Wonder
Jamiroquai
Isso porque fui condescendente com alguns artistas que não citei, mas que não são artistas "do Rock".
Num mundo cada vez menor, fica cada vez mais difícil não bagunçar o gaveteiro. O pessoal tá muito "organizadinho", atitude nada rocker ;-) .
João
ResponderExcluirOtimo texto brother, concordo em partes com vc.
Baiano como vc, mas sempre avesso ao axé e musicas do tipo, por isso entendo bem o lado dos "rockers" quando olham o nome de claudia leite num festival dito como de Rock.Mas concordo que há espaço para todos.
Salve, camaradas!!!
ResponderExcluirNa verdade, nós damos o conceito de festival de "Rock" por causa do nome que o evento leva, "Rock in Rio", só por isso, e que é apenas uma marca e nada mais, mas se formos analisar pela festa em si, é um festival internacional de música, o mais próximo que temos atualmente no Brasil como um evento internacional de Rock, chama-se SMU.
Algumas pessoas, quando gostam e consomem o trabalho de certos artistas (e eu também já fui assim e cá pra nós, ainda sou um pouco!) acabam sentindo como se a obra de determinado artista pertencesse a ele ou a um determinado grupo de pessoas que consomem aquele tipo de arte, dizem que isso tem o nome de "síndrome da carne de vaca". Detesto ver músicas de meus artista (olha o "meus" ai novamente!) sendo cantadas ou sendo regravadas em versões toscas por pessoas que do meu ponto de vista não tem ou não deveriam ter nada a ver com aquele tipo de música.
Eu entendo os roqueiros e percebo também que para eles, a obra de seus artistas é quase sagrada e intocável, e que de certa forma pessoas e/ou grupos fora daquele contexto não podem consumir aquele tipo de arte para não "contaminar" a arte propriamente dita .
Deixo claro que não gosto do tipo de música que feita por Cláudia Leitte e Cia. Mas a minha pergunta é a seguinte: diante de tantos artistas "não rockers" que já passaram pelo palco do Rock in Rio, e como bem listou Bani logo acima, essa implicância toda com a "meninas do axé" não teria uma ponta de preconceito que se estende além da música, não?
Abraço, camaradas.
Paulo Brazil.
Amante do Esquadrão.