sábado, 23 de fevereiro de 2013

De Bom Jardim a Olinda, com o Santinha no coração


A entrevista que segue foi gentilmente cedida pelo Professor Clóvis Campêlo e originalmente publicada no excelente blog geleiageneral.blogspot.com.br, nessa semana tive a honra e certamente o privilégio de conhecer pessoalmente o Mestre Bráulio de Castro, assim como o Professor Clóvis que me deu a oportunidade de trazer aos leitores tal conteúdo o mesmo me deu a chance de entrar em contato com o Mestre Bráulio inicialmente pela internet e curioso que sou pelas referencias que li e que ouvi falar, marcamos um encontro na casa do Carnaval no Pátio de São Pedro e teve o privilégio de conhecer esse homem sem dúvidas admirável, conversamos longamente, trocamos ideias, sem dúvidas mais ouvi que falei as muitas histórias, chegando inclusive a dar uma volta nos arredores do Pátio com uma ida ao Mercado de São José onde conheci alguns dos seus amigos e enxerguei ainda mais a grandeza desse Mestre que leva Bom Jardim nas lembranças e no coração, assim como eu a minha Vertentes.

Esequias Pierre Filho




 Fotos: Cida Machado/2011

DE BOM JARDIM A OLINDA, COM O SANTINHA NO CORAÇÃO

Clóvis Campêlo

Confesso que até algum tempo atrás era completamente ignorante em relação a Bráulio de Castro e suas músicas. Quem primeiro me chamou a atenção sobre ele foi Júlio Vila Nova. Depois, no CD “Dez Carnavais”, do Bloco Lírico Cordas e Retalhos, do qual Júlio é o presidente, descubro a música “O mais querido”, uma parceria dele com Fátima de Castro, sua mulher e prima legítima, e também compositora, cantora e instrumentista. É mole?

Mais adiante, nos contatos por mim mantidos para a produção do programa “Trem das Onze”, na Rádio Universitária AM do Recife, Walmir Chagas, o Velho Mangaba, presenteia-me com dois CDs seus, onde constam outras músicas compostas por Bráulio, entre elas o maracatu “Pátio do Terço” e o frevo-canção “Pernambucaneando”, pelas quais me apaixonei. A partir dali, ficou patente para mim todo o talento de Bráulio de Castro.

O melhor, porém, ainda estava por vir. Descubro que, assim como eu, Bráulio também é torcedor do Santa Cruz. Passamos a trocar figurinhas pela internet. Eu, enviando-lhe as matérias postadas no blog “Santa Cruz, a história e a glória”, e ele, comentando o material recebido. Depois de intenso vai-e-vem, proponho-lhe uma entrevista sobre o Santinha. Ele sugere que deixemos a entrevista para depois do jogo com o Treze de Campina Grande, no dia 16 de outubro, quando já teríamos definida a situação do Santa Cruz na Série D do Campeonato Brasileiro. O Santa se classifica para as semifinais da competição, nossos corações se acalmam e marcamos o encontro para o dia 22.

No dia marcado, às 10 horas, conforme o combinado, acompanhado de Cida Machado, chego na sua casa, numa rua aprazível do bairro de Casa Caiada, em Olinda, onde somos recebidos por ele e Fátima.

Para um entrevistador, não existe nada melhor do que um entrevistado falastrão. Descubro que Bráulio é assim. Puxa uma história atrás da outra – e olhe que são muitas! Nem mesmo precisei me utilizar das perguntas que tinha elaborado anteriormente.

Bráulio de Castro nasceu na cidade pernambucana de Bom Jardim, em 1942. Ainda menino, teve um sério problema de saúde que foi curado pelo leite de Francisca do Pezão, pedinte da cidade que lhe serviu de ama-de-leite.

Em 1949, veio para o Recife, acompanhando o avô paterno Ademário Gomes de Castro, indo morar no Largo São Luís, no bairro de Casa Amarela, naquele tempo já com uma grande população. Acostumado à tranqüilidade do interior, seu avô não se habituou com a agitação do lugar e, no ano seguinte, mudou-se para a Rua Ambrósio Machado, no bairro da Iputinga, bairro mais tranqüilo e onde havia muitos torcedores do Santa Cruz. Ilude-se, porém, quem pensa que a sua paixão pelo clube das três cores nasceu ali. Oriundo de uma família tricolor, ele já veio de Bom Jardim com a cabeça feita. Diz que, na verdade, curtiu duas infâncias felizes: no Recife, na casa do avô, tomando banho no rio Capibaribe, e nas férias, em Bom Jardim, onde tomava banho no rio Tracunhaém.

Em 1957, lembra da campanha feita pelo Santa Cruz para a contratação de Aldemar. O povo ia de bonde para a sede do clube, no bairro do Arruda, onde, aos pés de uma bandeira tricolor, depositava a sua contribuição para a contratação do craque. O Santinha formou uma grande equipe e foi supercampeão pernambucano de futebol, naquele ano.

Em 1964, homem feito, Bráulio ocupava o cargo de fiscal do Instituto Brasileiro do Café, quando, em abril, instala-se no País a ditadura militar. Dois meses depois, por conta da sua participação no movimento estudantil, é cassado do cargo que ocupava no IBC. Sem muitas oportunidades de trabalho no Recife, cinco anos depois, em 1969, resolve transferir-se para São Paulo. Chega à Terra da Garoa na mesma época da edição do famigerado Ato Institucional nº 5. Era um tempo difícil, de incertezas e de medos.

Mesmo assim, morou 22 anos em São Paulo, só retornando ao Recife no início dos anos 90. Confessa que chegou na Paulicéia disposto a torcer pelo time do São Paulo, por conta da identificação com as cores do Santa Cruz. Mas logo se apaixonou pelo Corínthias e seu povão. Não teve mais jeito: tornou-se corintiano.

Em São Paulo conviveu com grandes nomes da MPB, como Lupicínio Rodrigues e Adoniran Barbosa, do qual, inclusive, chegou a ser parceiro, dedicando-lhe três composições, duas feitas quando o compositor já era falecido. Vários outros nomes da música popular brasileira também gravaram as suas músicas, como Francisco Petrônio, que gravou a sua composição “Borracha do Tempo”, único samba incluído no seleto repertório do cantor.

Hoje, tranquilamente instalado em Olinda, Bráulio continua compondo e torcendo pelo Santa Cruz. Por conta da hipertensão e com medo da violência das torcidas, dificilmente vai à campo. A sua paixão pelo clube coral, porém, não arrefece. Lançou há poucos dias um CD com quatorze composições, entre frevos, sambas e maracatus, interpretadas por ele mesmo, Fátima de Castro, Bubuska Valença, Walmir Chagas, Chico Nunes e Edy Carlos, dedicadas ao Mais Querido de Pernambuco e em comemoração à conquista do campeonato estadual deste ano. No disco ainda homenageia a Bacalhau de Garanhuns, a quem chama de maior torcedor do mundo.

12 comentários:

  1. Grande tricolor, queria poder conhecer melhor suas composições, nunca tive acesso.. TRIII!!

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    1. Hélio, Bráulio é um verdadeiro mestre, espero que você tenha a oportunidade de conhece-lo e a sua obra, essa semana vou fazer uma publicação sobre um dos trabalhos que ele fez para o Santinha, que é uma homenagem ao GRANDE BACALHAU.

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  2. A paixão pelo futebol,e pelo Club do coração,é fantástica,é uma emoção que lava a alma,é uma emoção eterna!

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  3. Que texto!

    Obrigado Esequias por nos brindar com essa ótima historia do Clóvis Campelo.
    E fico imaginando a sua alegria em ter conhecido 2 pessoas que acrescentam tanto para a cultura e o desporto pernambucano!

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    1. Eu que agradeço o espaço Fabio Nascimento, eles são pessoas excepcionais mesmo, fiquei feliz demais e espero por outros encontros com ele, são dois grandes personagens!!

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  4. oia que chic!!gostei do texo,visse? :)

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  5. Bem vinda Jaciela!
    Que bom tê-la fazendo parte dessa loucura organizada que é o FMLD!!

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  6. Parabéns pela inicativa, Pierre. A conexão entre a cançao e o clube do coração ficou ótima!

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    1. Obrigado pela leitura e pela avaliação André! vindo de você também é muito importante! abração meu amigo.

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